O nosso corpo é povoado por uma quantidade impressionante de bactérias - cerca de 39 triliões - que na sua maioria, residem nos intestinos. Estas bactérias, são fundamentais para o bom funcionamento do trânsito intestinal e para um organismo saudável, uma vez que colaboram na síntese de vitaminas (K, B12, B9, B5 e B2) e ajudam a potenciar o nosso sistema imunológico. Já dizia (e bem) Francisco Varatojo que os nossos intestinos são a nossa raiz e têm a mesma função no corpo humano que as raízes das plantas têm para a saúde das mesmas. Uma planta com raízes fortes num bom solo cresce forte e saudável, da mesma forma que uns intestinos saudáveis criam seres humanos saudáveis.
Mas vamos então ao motivo central que me levou a escrever este artigo: os antibióticos.
Quando por algum motivo nos prescrevem um antibiótico de largo espectro (penicilinas, cefalosporinas de quarta geração, etc.) devemos pensar automaticamente em repor a nossa flora intestinal, uma vez que esta será afetada. No caso das mulheres, o cuidado deverá ser redobrado, pois existe a forte possibilidade de desenvolver candidíase, devido à alteração da flora vaginal. As floras bacterianas da pele e da boca são facilmente repovoadas de microrganismos uma vez que estão permanentemente em contacto com o meio ambiente exterior.
Mas e como podemos repovoar a nossa flora intestinal?
Com probióticos.
Os probióticos (pro=a favor; bio=vida) são microorganismos vivos que equilibram a flora intestinal. Ao serem ingeridos e integram-se à flora intestinal já existente, auxiliando no trabalho de absorção dos nutrientes.
E onde podemos encontrar os probióticos?
Aqui:
a) alimentos:
- iogurte
- kefir (leite fermentado, mas praticamente isento de lactose e caseína)
- miso (1)
- vegetais submetidos a uma fermentação natural: chucrute, kimchi, pickles
b) suplementação:
- em forma de pó ou cápsulas (são normalmente termo-sensíveis e por isso devem ser refrigerados.)
(1) Ingrediente tradicional da culinária Japonesa, feito a partir da fermentação da soja e cereais. Nota importante: o miso não pode ser fervido, pois perde as suas propriedades terapêuticas.
Como naturopata, defendo ao máximo a alimentação terapêutica e gosto sempre que possível utilizar os alimentos como os principais veículos de nutrientes e subsstâncias terapêuticas, no entanto devo dizer que os alimentos no ponto a) não são fontes suficientes de probióticos para este caso específico, sendo necessário optarmos também pela suplementação, uma vez que a sua concentração é 100 a 1000 vezes maior que a contida num alimento fermentado.
Existem no mercado excelentes suplementos probióticos, no caso dos adultos a dose diária deve rondar (idealmente) as 450 bilhões de bactérias.
Caso tenha efeitos secundários da toma do antibiótico - como é o caso da diarreia - pode tomar uma dose diária do suplemento de probióticos entre as tomas do antibiótico. Se for mulher, aconselho vivamente que aplique cápsulas vaginais que contêm probióticos (à venda em farmácias) de modo a restabelecer o equilibrio da flora vaginal e deste modo prevenir a aparição de candidíase e de desconfortos vaginais.
Depois de terminar o antibiótico deverá continuar a fazer um alimentação rica em alimentos probióticos e continuar a tomar o suplemento, pois a flora intestinal demora por vezes meses a recompor-se.
. . .
Outro ponto importante são as interacções de certos alimentos e plantas medicinais com os antibióticos. Muitas vezes podemos querer combater a infecção com certos alimentos que têm um efeito antibiótico ou anti-inflamatório natural, mas alguns não são de todo compatíveis, podendo modificar a eficácia (tal como acontece com a ingestão de álcool) e a segurança terapêutica do antibiótico. Segundo o Observatório de Interações Planta-Medicamento da Universidade de Coimbra, deve evitar o consumo de:
c) açafrão-das-índias, alcaçuz, alecrim, alho, ananás, dente-de-leão, equinácea, funcho e toranja.
d) menta, cidreira e verbena.
Estes alimentos (c) interferem na ação de enzimas que metabolizam os antibióticos, podendo alterar a sua eficácia e segurança terapêutica, e levar ao aparecimento de efeitos secundários.
Estes alimentos (d) inibem a ação das enzimas CYP450, 2C9 e 3A4 que metabolizam no nosso organismo alguns antibióticos, podendo também aumentar os efeitos secundários.